Terreiro de Mina Dois Irmãos
Descrição
Pensar em religião de matriz africana no estado do Pará é inegavelmente remeter a dois tipos de culto adentrados neste território em momentos históricos distintos; são eles a Mina e o Candomblé. O primeiro, precursor, chegou a Belém em meados do século XIX; enquanto o outro migrou, entre as décadas de cinqüenta e setenta do século XX. De origem histórica mais antiga em terras paraenses, a Mina é uma religião trazida pelos escravos vindos do Daomé (República Popular do Benim) para os Estados do Maranhão e Pará. O termo Mina faz referência ao maior empório de escravos sob domínio português; o Forte São Jorge de Elmina, situado na Costa do Ouro, atual Gana, que exportava mão-de- obra negra para diversas partes do Brasil (Vergolino e Silva, 2003).
No Estado do Maranhão estes negros fundaram duas casas mater; a Casa das Minas – de tradição Jeje – e A Casa de Nagô – com influência da tradição nagô, em meados do século XIX. Além destes dois centros de culto, considerado pela bibliografia específica, como pioneiros; podemos citar também outros terreiros, de fundação um pouco mais tardia, que tiveram importância fundamental em se tratando da formação da Mina no Pará. Trata-se do Terreiro da Turquia, fundado por mãe Anastácia; e o Terreiro do Egito; criado por Massinocô-Alapong.
Outro grande centro exportador de tradição é a cidade de Codó, situada no sudoeste do Estado do Maranhão, cuja ênfase era dada ao culto dos “encantados” (Vergolino e Silva, 2003).
Foi do Maranhão que os religiosos afro-brasileiros migraram para Belém, em duas etapas; a primeira composta pelos religiosos maranhenses migrantes da economia gomífera e a segunda constituída por paraenses que foram para o Maranhão buscar iniciação durante a década de 70 e 80 do século XX. Podemos dizer, no entanto, que a história paraense não é tão clara quanto à maranhense; nem as pedras da memória dos religiosos estão tão bem conservadas. A única certeza que se tem é que, “nas águas do Pará”, não existe um terreiro de raiz fundado por africanas. Se, em São Luís, podemos ter notícias das características étnicas das fundadoras, descrevendo inclusive as suas marcas tribais; em Belém, até bem pouco tempo atrás, os religiosos sequer faziam referência às linhagens.
Atrevemo-nos mesmo a afirmar que essa tradição de reconhecimento da origem africana, em se tratando do grupo oriundo da primeira migração, fez o caminho inverso ao habitual, veio da academia para os terreiros.
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