Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Porto de Belém
Descrição
A orla de Belém, quando da chegada de Francisco Caldeira Castello Branco, era formada por praias (de água doce), igarapés, rios e florestas, onde moravam os seus naturais, os índios Tupinambás. Desembocavam em alguns pontos dessas praias, as águas de vários igarapés como o Piri, o Murtucú, o Oriboca, o Reduto, o das Almas, o da comedia dos peixes-bois, dentre outros. […]
O primeiro porto da povoação, foi um porto natural, o da Praia, junto ao promontório existente na margem esquerda do igarapé do Piri, que na falta de um nome, designamos – Porto da Praia do Forte – na base da elevação, onde foi construído pelos colonizadores a sua Casa Forte ou Fortaleza inicial – Forte do Presépio – e a partir dela, surgem os primeiros caminhos, depois ruas da cidade. Portanto, o Porto da Praia do Forte, foi inicialmente, o principal do início do século XVII e situava-se à margem esquerda da desembocadura do alagadiço e igarapé do Piri, que lançava suas águas na Baía do Guajará.
Posteriormente, surge o primeiro caminho na mata, “paralelo” ao rio Guamá (iniciando o surgimento de vias na cidade) e que viria a se chamar mais tarde, Rua do Norte (hoje, Rua Siqueira Mendes). No final desse caminho surgiu um largo que viria a se chamar do Carmo. Existia nesse lugar, também do lado da ribeira, um porto natural na praia banhada pelo rio Guamá, que na falta de uma denominação, chamaremos de Porto da Praia do Largo do Carmo.
Com o crescimento da povoação, o alagadiço do igarapé do Piri (que isolava o sítio do Forte do Castelo das áreas firmes à direita desse igarapé) é transposto por ponte de estiva em 1627 e surgiu na margem direita do Piri, um caminho posteriormente chamado de Rua dos Mercadores (hoje, João Alfredo), indo até ao largo onde os missionários Mercedários, construíram sua igreja em 1640. Essa via funcionou como vetor da expansão de um novo bairro – a Campina – que com o surgimento de comerciantes naquele novo sítio, suas atividades acabaram por determinar a denominação do bairro já referido.
Essa nova concentração de colonos e comércios fez com que o desembarcadouro da praia do Forte venha a se deslocar para a margem direita do Igarapé do Piri, ficando como ancoradouro principal da cidade durante o século XVII, no espaço entre a Rua dos Mercadores e a desembocadura do Piri com a baía do Guajará.
No século seguinte, o Major Engenheiro Gaspar João Gonçalves Gronfelts propôs aproveitar as condições do sítio urbano de Belém, unindo seus igarapés através de canais, de maneira a utilizar a natureza do lugar:
[…] devem ter um cais de pedra todo cingido de árvores fecundas, entremeadas de árvores de ornato. Para se efetivar o projeto, acentuava que a despesas se fizesse pelo público obrigando os moradores a pagar um tanto para cada remo de suas canoas; quer do transporte interior quer do transporte dos efeitos agronômicos as quais teriam que lagamar estância segura e independente da guarda dos escravos, pois que esta tocaria ao Registro da entrada quando assim conviesse ao possuidor da canoa e nesse caso, as velas, remos e lemes seriam recolhidos na Casa do Registro. Este tributo deveria durar até cerrar o pagamento da despesa total (BAENA, 1839 apud PENTEADO, (1973, p. 51-52).
Como se nota em 1771, ano em que Gronfelts apresentou seu plano de se dar guarida segura às embarcações e de dotar Belém de um cais de pedra e pela primeira vez se cogitou de tal problema, inclusive no que se refere à obtenção do capital para o custeio de tal obra, representado pelo “um tanto para cada remo”, a ser pago pelos que possuíssem canoas e que deveriam não ser poucos. Gronfelts imaginava Belém, mais bela que Veneza, ao propor dotar a Cidade do Pará de um lagamar de cais de pedra com três entradas. A justificativa era o movimento do Porto de onde partiram 138 embarcações entre 1756 e 1777, com destino a Lisboa, bem como, o valor desses carregamentos (cacau, café e cravo). Não houve a execução do projeto por ele idealizado.
A necessidade de um Porto em razão da atividade comercial continuava a ser reclamado inutilmente, conforme Baena apud Penteado:
[…] em 1839, só havia um pequeno cais de pedra situado na baía do Guajará, do “Convento de Santo Antônio até a boca da travessa das Gaivotas, e uma rampa, a que o vulgo chama de ponta de pedra, mal ideada, acanhada e incompleta, que existiu quase no centro da ribeira”, entre a citada travessa (hoje, 1° de março) e a doca do Ver-O-Peso, rampa essa de grande importância, pois que tinha “sempre maior frequência popular” (PENTEADO, 1973, p. 54-55).